terça-feira, 4 de janeiro de 2011

O LUTO NOSSO DE CADA DIA

Alguém escreveu num momento que as pessoas que amamos podem ser arrancadas de nós muito rapidamente...essa fala me fez pensar no luto.
O que é o Luto?
De acordo com a psicologia, é o processo de adaptação à perda. Quanto mais for o apego ao objeto ou a pessoa, maior será a dificuldade em lidar com essa perda.
Assisti outro dia uma palestra sobre o assunto e achei muito interessante.
Nós vivemos o luto todos os dias e não sabemos disso...quando nós escolhemos entre ir em um lugar ou ficar, já estamos decidindo vivê-lo...pois de alguma forma estaremos perdendo alguma coisa. Se nós formos vamos perder por não ter ficado, se ficarmos...perdemos por não termos ido...quando escolhemos estamos decidindo que vamos perder, deixar de viver alguma coisa e tudo isso é um processo de luto, e não nos damos conta.Quando nós vivemos o luto pela perda de alguém é natural que sintamos tristeza, melancolia e que isso dure algum tempo e que é compreensível (até 2 anos) após esse período já seria necessário um acompanhamento psicológico (terapia da perda), permitindo a suavização do sofrimento.
As pessoas reagem de formas muito diferentes diante do luto. Cada uma irá se adaptar dentro desse processo de acordo com sua história de vida, sua experiência, valores, crenças e fé, algumas conseguem resignificar suas vidas de forma muito rápida por terem facilidade de compreensão desse processo, outras se demoram um pouco mais e outras caem profundamente em depressão pela não aceitação, pela negação.
O fato é que diante do luto nosso de cada dia, e diante dos lutos pelas separações dolorosas, tanto a psicologia quanto o espiritismo vêem sob o memo olhar:  TER EM MENTE QUE TUDO É TRANSITÓRIO. Quando nós aceitarmos a transitoriedade da vida e dos acontecimentos o luto será um processo muito menos difícil de ser trabalhado. A resignificação será um tanto quanto mais rápida e a ferida irá cicatrizando, mesmo que nao seja em definitivo, pois como dizia Freud  “Não se consegue vencer o luto, talvez porque seja verdadeiramente um amor inconsciente”,  contudo a dor pode ser amenizada.
Eu li certa vez uma história onde dizia que uma mulher foi até Buda com o filho morto nos braços, pedindo-lhe que lhe restituísse a vida, ele disse a ela que poderia fazê-lo, desde que ela trouxesse alguns grãos de mostarda, porém esses grãos deveriam vir da casa onde nunca houvesse tido alguma morte, do mordomo, do pai, da mãe, do filho, da empregada, enfim...onde nunca ninguém tivesse morrido...Ela então parte na busca desses grãos, quando pergunta todos dizem que tinham os grãos de mostarda só que ali havia morrido o pai, em outra morrido a mãe...e assim ela foi em diversas casas, voltando diz à Buda que encontrou os grãos mas que não havia encontrado nenhum lar que estivesse livre de ter perdido alguém...fica a reflexão.
Quando Bartolomeu interroga á Cristo se é lícito chorarmos pela perda de um ente querido: - Jesus bondosamente e compreendendo a dor da alma daquele homem responde: Bartolomeu, quem estará perdido se Deus é o pai de todos nós, se tudo volta para ele. Se àqueles que vivem no lodo da miséria e haverão um dia de vislumbrar a aurora da redenção, o que não está reservado aos filhos fiéis? 
Tudo é do Pai e tudo volta para ele, ninguém está perdido, nem perde ninguém.
Jesus havia dito que a felicidade não é desse mundo, e sabedor das necessidades humanas também disse: Vinde a mim todos vós que estais aflitos e sobrecarregados, e eu vos aliviarei, ele não escolheu quem deveria vir à ele (rico, pobre, magro, gordo, feio/bonito, alto, baixo, coxo, manco, aleijado, cego, marcado, amputado, surdo, negro, branco) disse todos! E é NELE que encontramos o refrigério para nosso sofrimento, curativo para as úlceras abertas no nosso coração fragilizado e humano.
Eu sou o caminho, a verdade e a vida...
Talvez tenha sido isso que Tagore quis dizer quando escreveu:
“Procurei-te desarvorado e triste pelas terras distantes.. em loucas aventuras com os outros, sem conseguir encontrar-te. Aonde chegava a minha ansiedade... deparava-me com as marcas de teus pés no chão. Penetrei-me pelas lâminas da angústia... dilacerando todas as minhas ambições, em vãs tentativas de te encontrar. Exauri-me... sem resultado feliz... e detive-me vencido. Defrontei-me um dia... duas estrelas que se apagavam nos olhos de uma criança abandonada... e amei-a. A sua voz sem palavras    e a música de sua necessidade... fizeram-me encontrar os três: o próximo, a mim e a ti, ó Soberano Senhor da minha vida. Não cesses de cantar... ó brisa ligeira que passeias pelo vale... nem interrompas o teu curso... ó água transparente do regato. Toda musicalidade que embala a natureza ...faz-se partitura para que o cantor destrave a sua voz de sua garganta e inunde o mundo de harmonias”.
Quando a nossa dor encontra a dor do outro, não há luto, não há depressão, não existe infelicidade e sim NÓS.